Parte II
No seguimento do Dia Internacional do Yoga gostava de olhar para trás e tentar perceber de onde e como aparece esta invenção humana que perdura e prolifera até hoje.
Yoga é mesmo uma poderosíssima ferramenta de mudança mas, acima de tudo, de ajustamento e organização entre o corpo e a mente, com a regulação das emoções à mistura com o objetivo claro da elevação do espírito (em vida… não confundir com o mesmo conceito cristão).
Se olharmos para a História, 3000 a.C., enquanto a grande maioria dos povos do planeta andava a gastar energia a invadir, anexar, conquistar, explorar (e “n” mais interesses transformados em verbos de militância), andava um povo pelas margens do rio Hindu, a dar os primeiros passos nos conceitos de:
- “as minhas ações têm consequências” (boas, más ou mais neutras) – karma
- “desenvolvimento pessoal” – autoconsciência (trabalhar no que faço perante o que sinto, com a expectativa de ser e fazer melhor)
O exemplo que costumo dar nas aulas de formação de professores é muito gráfico:
“Enquanto Viriato andava numa gloriosa labuta pelas montanhas para não ser governado nem governar, andavam os hindus, os jainistas e os budistas a desenvolver poderosas ferramentas de autorregulação emocional, física e mental” (já com uma milenar experiência no seu currículo).
O primeiro registo de alguém a fazer Yoga/meditar é de 3000 a.C. aproximadamente. Trata-se de Shiva: Deus Hindu da destruição e do infinito, o rapaz azul de cabelo comprido com uma serpente ao pescoço e um tridente com um tambor atado, considerado o 1º yogui. Para perceberem a ligação, a serpente representa a energia agressiva, necessária à ação, a energia vital do fogo serpentino do Kundalini (na linguagem das minhas aulas presente na expressão “’bora lá!”, e o tambor o tempo (não há nada mais precioso do que o nosso tempo).
A noção de tempo como preciosidade individual e regulador ou organizador da vida já tinha um papel central no desenvolvimento pessoal nesta altura.
Há 20 anos atrás talvez não, mas nos últimos 5 anos quantas vezes leu ou ouviu:
“Agora é o momento” ou “o poder do agora”?
Entre mil outras expressões envolvendo:
“agora“, “presente” ou “estar presente“.
É muito básico mas muito difícil estar realmente presente e focado, a viver as coisas no momento. Quem nunca perdeu 1h para fazer uma coisa que se faz em 10 minutos? Agora multiplique isso por todos os momentos, tarefas ou partilhas relacionais em que está desconectado, seja por distração, seja por incapacidade de viver o que está a acontecer?
Yoga pode ajudar.
É uma meditação ativa, em que o trabalho é de foco e análise do que acontece no corpo – sensações, emoções perante a realidade, e como lidamos com tudo isso.
O primeiro registo de alguém a praticar Yoga, acima descrito, é um baixo relevo com Shiva sentado a meditar, rodeado de representações de animais.
Sim, há pelo menos 5000 anos que se medita. Sim, a usar a “inovadora” ferramenta que os pensadores, influenciadores e criadores, CEO’s e atletas buscam hoje para expandir o potencial da mente. Bem como a expansão da inteligência emocional (numa altura em que o desenvolvimento do ser humano está marcado pela tecnologia e a sua perícia perante a facilitação dos processos e tarefas).
Yoga, sim, pode continuar a ser a mais poderosa ferramenta invisível dos que querem ser mais eficientes, produtivos e saudáveis – física, mental e emocionalmente.
Texto da autoria do professor de Yoga
Pedro Mendes