Parte I
Uma contratura muscular define-se por uma contração contínua e involuntária de um músculo ou de uma porção das suas fibras. Assim sendo, a contratura existe quando há uma contração incorreta do músculo, aliada à sua incapacidade de voltar a um estado normal de relaxamento.
A contração involuntária e contínua destas fibras pode originar nódulos dolorosos aos quais chamamos Pontos Gatilho (Trigger Points). Estes nódulos são pequenas zonas da banda muscular que entraram em contração e assim se mantiveram ao longo do tempo.
A nível fisiológico, existe uma diminuição da circulação sanguínea, que leva a uma diminuição da nutrição celular e da remoção dos resíduos provenientes do metabolismo celular. Há, então, uma acumulação de ácido láctico e diminuição do pH da região, que leva ao aumento da inflamação e, consequentemente, ao aparecimento de dor.
PONTOS GATILHO E DOR IRRADIADA
Contraturas com presença de pontos gatilho podem originar não só dor no local mas também dor referida e irradiada para outros locais mais distantes da sua origem, podendo desta forma induzir alguns diagnósticos em erro.
Nas imagens acima, a presença de pontos gatilho nos músculos Esternocleidomastoideu (à esquerda) e Trapézio (à direita) podem irradiar dor para a cabeça em forma de capacete, base da nuca, zona auricular, testa e à volta do olho. Assim sendo, poderemos estar na presença de uma falsa cefaleia ou enxaqueca.
Na imagem acima, a presença de pontos gatilho no músculo Glúteo Mínimo pode causar dor referida pela zona posterior e lateral da coxa e perna, podendo ser confundida com dor ciática.
SINTOMAS
- Presença de banda muscular tensa e nódulos dolorosos, detetáveis na palpação do músculo;
- Espasmo local como resposta à pressão na zona;
- Limitação do movimento da(s) articulação(ões) mais próximas;
- Dor e desconforto local;
- Dor referida em locais distantes do músculo (cada músculo apresenta um padrão de dor característico, apesar de poder sofrer variações entre cada pessoa);
- Dor irradiada (que segue o trajeto de um nervo, dor elétrica);
- Fraqueza muscular e dor à contração mantida;
- Dificuldade no alongamento com presença de dor.
INCIDÊNCIA:
- 3x mais frequente no sexo feminino;
- Sedentarismo e inatividade física;
- Mais frequência em faixa etária entre 30 e 49 anos;
- Rara na adolescência.
CAUSAS:
- Esforços excessivos (contração muscular intensa e repetida)
- Posturas viciosas e/ou má ergonomia;
- Traumas de repetição;
- Traumas emocionais;
- Lesões osteo-articulares, miofasciais e inclusive viscerais;
- Exercícios que solicitam músculos que não estavam preparados para a atividade;
- Encurtamento permanente (por insuficiência muscular ativa);
- Carências vitamínicas e de sais minerais (vit B1, B6, B12, C, ácido fólico), por acidificação do meio;
- Imobilidade prolongada (acamamento após cirurgia, colocação de gesso);
- Alergias, hipoglicémia, hipertiroidismo, etc.
COMO TRATAR?
Por norma existe a tendência de alongar os músculos contraturados. No entanto, será que é esta a melhor solução? Devemos alongar os músculos em contratura com presença de pontos-gatilho?
Antes de alongar qualquer músculo, deve-se analisar a situação clínica do mesmo, pois um músculo contraturado nem sempre significa ser um músculo encurtado que precisa de ser alongado.
Na parte II deste artigo iremos explicar se devemos ou não alongar, bem como, o melhor tratamento para contraturas com presença de pontos-gatilho.
Referencia bibliográfica: Simons, David., Travell, Janet. Myofascial Pain and Dysfunction: The Trigger Point Manual. Volume 1: Upper Half of Body. Williams & Wilkins. 1999
Texto da Fisioterapeuta Sara Hu